Uma vez o grande trader Paul Tudor Jones foi entrevistado pelo analista de mercado Joel Ramin.

Depois de várias perguntas, Ramin decidiu mudar o rumo da entrevista. Ele começou um jogo de associação de palavras com o rico hedge fund manager. Nesse jogo, ele diria uma palavra qualquer e Jones, responderia com a primeira coisa que viesse à sua cabeça.

A primeira palavra foi “Análise Técnica” e a resposta foi:

A análise técnica fez um pouco mais da metade de todo o dinheiro que consegui em toda minha vida.

A segunda palavra foi “Análise Fundamentalista” e a resposta do dono de uma fortuna estimada em 4.7 bilhões de dólares foi:

A análise fundamentalista fez o resto.

Quando li essa entrevista, imediatamente pensei no Método CAN SLIM do William O’Neil e das técnicas do Nicolas Darvas. Lembrei das “peneiras fundamentalistas” e cheguei à conclusão de que, apesar de muitos disserem que não usam AF, de uma forma ou outra, utilizam sim.

Ninguém deve comprar um mico só porque o papel mostrou um forte sinal de entrada. Assim como ninguém deveria investir num papel que está em queda livre.

Porém, objetivamente, faz sentido utilizar um pouco, tanto da análise técnica quanto da fundamentalista para se especular ou investir na bolsa de valores?

Traders, Investidores e a Escala Temporal

Usava AF no intra-day e AT para 30 anos, aí acordei, criei esse capacete e o resto esqueci!

É de longa data as briguinhas bobas entre fundamentalistas e grafistas (ou técnicos) e até hoje eles se bicam e dizem que os métodos de um e do outro não funcionam e blá blá blá.

O problema é que os dois grupos pensam em escalas temporais diferentes. E os resultados dos dois tipos de análise, dependem demais do tipo de prazo em que são usadas.

Exemplo, eu faço uma profunda análise na PETR4 e chego à conclusão de que devo comprar as ações como um investimento, obviamente, para o longo prazo.

Se ficar com elas por 1 ou 2 meses, será que vai dar tempo da AF “funcionar”? Considerando o ritmo pouco animado do mercado nesses dias, eu provavelmente perderia dinheiro! Agora, e em 10 anos? Aí sim será um investimento.

E do lado técnico, quem diabos iria operar com um gráfico de vários e vários meses em cada candle? Quem usaria um sistema que diz: “compre nos rompimentos do gráfico de 10 anos”? Ninguém, pois depois do médio prazo, quanto mais nos distanciarmos do presente, mais a ação dos preços começará a se tornar inútil pois no longo prazo, sabemos que o que conta mesmo são os fundamentos.

Então, se muitas vezes, operadores e investidores podem tirar proveito uns dos conhecimentos dos outros, porque não utilizar alguns elementos tecno-fundamentalistas? Cabe a você decidir se prefere seguir o caminho tradicional, ou seja, continuar sendo um purista, ou fazer como o Paul Tudor Jones e tentar lucrar utilizando diferentes metodologias.

Abaixo, apresento algumas idéias para isso.

Investindo Com Elementos Técnicos

Apenas uma ideia, apenas uma imagem previsível. 😛

Existem vários maneiras de um fundamentalista começar a utilizar a análise técnica.

Por exemplo, se eu fosse investir numa ação qualquer, eu não compraria na hora sem saber em que direção os preços estão indo. Se os sinais técnicos indicam uma subida, aí sim, faria o investimento.

Porém e se os preços estiverem caindo?

Não seria mais inteligente esperar que eles caiam mais para poder entrar na ação assim que surgir um sinal de compra? Dessa forma, você poderá fazer o seu investimento numa boa ação no melhor momento possível. Além de custar menos, comprará justo quando o papel tem mais chances de subir!

Lembram-se daquela história da “margem de segurança” do Warren Buffett?

Então, esse é o jeito “técnico” de ser fazer uma boa entrada fundamentalista. Se der tudo errado, você continuará com o investimento como iria de qualquer forma. Mas se der tudo certo, será possível comprar mais por menos.

Tudo bem que essa diferença poderá parecer pequena hoje. Mas daqui a vários bons anos, essas açõezinhas a mais trarão resultados. Isso é, se a sua análise foi bem feita.

Agora, se você não estudou nada sobre a análise fundamentalista, não adianta incluir elementos técnicos porque você não sabe o que está fazendo, logo, não invente história, aprenda o básico primeiro e depois não diga que eu não avisei…

Investidores competentes e interessados em utilizar AT em seus investimentos, podem estudar:

Operando Com Elementos Fundamentalistas

Yeah nóis! Agente ser emos vítimas da Arnálise Têniaca!

Os traders podem se aproveitar da famosa “peneira fundamentalista”.

Essa peneira funciona como um vestibular no qual os candidatos passam por duas fases. A primeira é a de exclusão, ou seja, tiram do processo aqueles que não sabem o suficiente sobre as coisas irrelevantes pedidas nas provas. A segunda fase é a de seleção, nela, os examinadores escolhem os alunos.

Na “peneira fundamentalista”, você também exclui o que não serve. Como os micos, ações com baixos níveis de crescimento e aquelas com uma liquidez tão horrível que seus gráficos parecem escadinhas. E depois, com a análise técnica, opera as que sobrarem. Dessa forma, os operadores negociam apenas aqueles papéis que, fundamentalmente, tem maiores chances de subir.

Ou seja, se do nada você entrar em coma, quando (ou se) voltar, a chance do seu trade ter virado um ótimo investimento, será maior. 😀

Outro problema é o excesso de sinais de compra ou de venda gerados ao mesmo tempo. Ás vezes, com um capital baixo, não será possível seguir todos esses sinais. Mas se você já tiver separado as melhores ações das piores, saberá quais operar.

Poderá também fazer como o Jesse Livermore, que apesar de ser técnico, considerava os fundamentos. Ele separava as ações por grupos e operava a líder.

Traders interessados em utilizar AF em seus trades, podem estudar:

E vocês? São 100% técnicos, 100% fundamentalistas ou aproveitam o melhor dos dois mundos?

5 Comments

  1. Joao Paulo 27 de maio de 2010at8:30

    Opa!

    Hugo, mesmo considerando operações nas duas pontas (compra e venda), qual (is) critério (s) vc utilizaria para a escolha dos ativos de uma carteira “trend following” baseada em gráficos semanais?

    Reply
  2. Joao Paulo 27 de maio de 2010at9:09

    Suponha que o capital operável seja 30 mil reais, pra montar uma carteira de umas 4 ações.

    Reply
  3. Adir 27 de maio de 2010at9:41

    SenhorMercado,

    Sim, acredito perder muito se não levar a AF e a AT como premissas para bons trades, sejam para DT, ST ou Position.
    O critério da peneira, pode ser facilmente explorado apartir das ações que carteiras dos nossos bancos de relacionamento ou clubes de investimento utilizam em seu portifólio. (eles fazem esse trabalho pra nós, não precisamos gastar tempo e nem conhecer a fundo a AF para beneficiarmo-nos desta pré-seleção).
    Sou economista e tive a felicidade de poder estudar em várias cadeiras, ferramentas que compõe uma AF no entanto, a academia nos deixa ainda muito longe da realidade prática.
    Sendo assim, busco analisar, os papeis de grandes investidores e reservo-me o direito à algumas emoções (small-caps) que são utilizados para “aventuras” sem propriamente dito, comprometer meu capital.
    Papeis que compõe o ibov já são um forte indício de grande liquidez no entando, existem muitos outros que são interessantes e muitas vezes com maiores propensões a fortes altas (fundamentos e tendências).

    Uma vez li num fórum, “é muito mais prudente você conhecer muito bem 1 mulher do que ficar aventurando-se com 10 20”. Levo esse clichê na minha estratégia. 2 ou 3 papeis bastam! Independente do capital envolvido!! Devemos nos preocupar com os critérios para a escolha destes papeis. Fundamentos, Backtests, Retorno, Risco, Winloss, Profit Factor, Recovery Factor, etc… devem ser explorados para evitar surpresas desagradáveis. Não poderia deixar de dizer que talves mais importante do que o papel a ser operado, um forte manejo de risco/capital pois este último lhe dará frutos ou ao menos sobre-vida no mercado financeiro.

    bons trades!

    Reply
  4. Flavio 27 de maio de 2010at14:43

    Vejo um problema em usar AF junto com AT: a AT parte da premissa que o mercado é eficiente. A AF parte da premissa contrária. Juntar às duas leva a uma contradição: a de que o mercado é eficiente E não é eficiente ao mesmo tempo!

    “Passar uma peneira fundamentalista” nas ações antes de fazer a AT, a meu ver, não agrega muito. Se os fundamentos da empresa são excelentes, mas ela acabou de romper um suporte e está despencando ladeira abaixo, um fundamentalista aproveitaria a oportunidade para comprar a ação abaixo de seu valor patrimonial (p.ex.), enquanto um técnico tentaria vender na mesma hora. E quem mistura AT+AF, faz o quê?

    O caso oposto: uma ação com excelentes fundamentos vem subindo ladeira acima e acabou de romper uma resistência. Porém, ela vem sendo negociada a um P/L muito maior que outras empresas do mesmo ramo (p.ex.). O que fazer? Um fundamentalista venderia na primeira oportunidade, já um técnico compraria. E quem mistura as duas, faz o quê?

    Agora, nada impede que se use AT para uma parte da carteira e AF para outra.

    Veja esse texto:
    http://www.fundamentus.com.br/pagina_do_ser//ataf.htm

    Ah, parabéns pelo site!

    Reply
    1. Hugo 28 de maio de 2010at0:13

      João Paulo: critérios fundamentalistas você diz? Acredito que os principais sejam: ações de capitalização média e com crescimento constante pelos últimos 5 anos, como no método Canslim. Você quer papéis que tem muito o que andar ainda, e não só os elefantes já crescidos.

      Agora, não sei se você leu minha análise do Stock Market Wizards, mas tem uma mulher lá que só opera à descoberto usando análise fundamentalista! Ou seja, ela vende ações toscas (mas não micos, não toque nos micos!), baseando-se em seus fundamentos como crescimento decrescente, falta de entrega de dividendos e etc.

      Adir: Eu sou apenas o Hugo, mais conhecido como tiozinho do blog, você, eaeowz ou nerds! Senhor Mercado é como o Warren Buffett e o Benjamin Graham chamam o mercado de ações. Se juntar todas as habilidades deles mais a de todos os melhores especuladores do mundo e eu (haueiaheaieuha), o grupo ainda não conseguiria parar “O” Senhor Mercado 😀

      Acredito que a importância da análise fundamentalista aumenta muito dependendo da duração do trade. Nunca me imaginei fazendo DT ou até SW olhando indicadores fundamentalistas pois nesses períodos o que conta mais é o barulho do mercado. As “tendências”, apesar de ainda serem “navegáveis”, não são tendências e sim, barulho.

      E sobre operar small-caps depende. Não tem problema nenhum em operar ou investir em small-caps. Tudo bem, o risco pode ser maior pois as empresas são menores e não necessariamente estabilizadas. Porém se você conhece o negócio, conhece a empresa e de preferência, conhece os responsáveis (como o Buffett faria questão de conhecer), não acredito haver problema. Logo, não chamaria de ações para emoções, já que as aventuras vem do que você não conhece, e se conhece, aí já não é mais uma aventura 😀 ou 🙁 dependendo do ponto de vista hehehehe

      Ahh é, concordo com a metáfora das mulheres, é mais fácil possu… te… compr… manter vai? Poucas do que muitas. Mas aí também pode depender do ponto de vista 😛

      Flavio: não é exatamente juntar as duas. E sim, utilizar alguns elementos. No seu exemplo, o técnico venderia à descoberto, faria um lucro, fim da história. Porém um fundamentalista compraria a ação (mesmo estando abaixo do valor patrimonial e considerando que o investidor não tenha problemas de liquidez) na mesma hora? Ou seja, ele investiria enquanto o papel está caindo? Não seria melhor esperar um sinal técnico para tentar comprar MAIS ações abaixo do valor?

      Pelo outro lado: a ação sobe e está com P/L alto. E daí? Vender porque? Muitas das melhores ações ficam com P/Ls relativamente altos por um bom tempo. Claro, o mercado precifica algumas ações estupidamente várias vezes porém, ocasionalmente, o preço fica “certo”. Exemplo, o Buffett comprou a Coca-Cola quando ela estava no preço normal, P/L normal (alto, ações americanas também…) e todo o resto sem desconto. Porque? Pois ele viu que era um bom investimento. O Buffett não usa nada de AT porque ele não gosta.

      Eu acho que é uma boa idéia utilizar entradas e saídas técnicas na análise fundamentalista, apenas para tentar pegar mais. Se a tal ação com P/L altíssimo deixar de ser um bom investimento, o investidor em vez de vender, pode colocar um stop curtíssimo. Alguns não gostam da idéia, porém eu acho que é um problema de flexibilidade do operador/investidor.

      Reply

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *