Indicadores, osciladores, gráficos candlestick, linhas de tendência de alta ou de baixa, médias móveis exponenciais, fibonacci, home broker, que seja.

A verdade é que em 1800 e dinossauro os grandes traders não utilizavam nenhuma dessas ferramentas da análise técnica moderna para fazerem seus trades, elas nem tinham sido inventadas na época.

Mas então, considerando que eles não tinham nem internet para enviar suas ordens para os corretores (precisavam usar o telefone, mas tente não pensar nisso, é assustador), como conseguiam operar ações e companhia na bolsa de valores?

Usando a Fita de Cotações e o “Book” de Ofertas!

Uma solução seria operar na própria bolsa. Mas o ruído do mercado zoaria o trader psicologicamente e ainda, era preciso pagar uma alta taxa.

Logo, a solução mais racional adotada pelos traders era a de ficar longe do mercado e fazer os trades baseando-se na fita da máquina de cotações. Inventada em 1856 por David E. Hughes, esse aparelho de nome sem graça funcionava assim:

Você comprava uma unidade (bem cara), pagava a taxa pelo serviço (bem alta) e então recebia as cotações através do telégrafo. Um avanço para a época. Antes era por código morse, ou seja, você precisaria entender os bips!

A famosa “fita”

Voltando ao telégrafo…

As cotações eram impressas numa fita de papel. O resultado? Uma versão da faixa de preços do canal Bloomberg melhorada, com valores ask e bid. Por isso a maquininha era muito mais elegante, legal, bonita, inteligente e eu queria uma!

O mané suicida do Jesse Livermore tinha várias, uma em cada casa e outra num barco! Com tantas máquinas, ele não precisaria ficar longe dos mercados por muito tempo. Mas como este privilégio era para poucos, nós, pobre mortais da década de 20 (??), podíamos apenas nos contentar em assistir a fita numa corretora de valores qualquer. 🙁

Agora, uma outra facilidade que eles não tinham na época era o book de ofertas. Hoje, se quisermos usar esta incrível ferramenta técnica, basta darmos alguns cliques no Home Broker, que poderemos acompanhar o book de qualquer ação que desejarmos.

Mas naquela época?

Eles precisavam montar os books! O Jesse Livermore pagava alguns moleques para isso. Eles tiravam as informações da fita, valor da última negociação, preço ask e bid e escreviam num quadro negro. O resultado era um book menor, com poucos valores ask e bid, mas pelo menos funcionava… naquelas…

Analisando Suportes e Resistências!

Tá, mas como esses traders operavam com tão poucas informações? Com o preço das ações e o volume?

Exato! Muitos deles assistiam os preços e traçavam linhas de tendência mentais. O processo é realmente muito simples e qualquer um pode fazer, basta ter as cotações.

Vou explicar como funciona com um exemplo. Para isso logue-se no seu Home Broker, escolha uma ação qualquer e comece a prestar atenção nos preços. Depois de um tempo você terá visto algo mais ou menos assim:

60,00 – 59,90 – 59,95 – 60,00 – 59,98 – 59, 80 – 59, 65 – 59,75 – 59,90 – 60,00 – 59,90

E aí? Percebeu alguma coisa? Quem sabe esta resistência em 60 reais que está sendo testada sem parar?

É assim que eles faziam. É bem legal fazer isso pois descobrimos que não precisamos de gráficos. Tudo bem que eles ajudam pra %$@#$#@ mas é legal aprender a operar com o mínimo necessário.

Outro fato interessante é que hoje nós escrevemos o preço com vírgulas, mas até pouco tempo atrás as bolsas mostravam os preços em frações. Então eram 60¼ em vez de 60,25 ou 25¾ em vez de 25,75. Por isso que no Memórias de um Operador da Bolsa os valores aparecem desse jeito.

Operando Sistemas Trend-Following!

Os traders das antigas tinham um problema muito maior do que o nosso mero incômodo numa falta de softwares de análise. E era o seguinte, muitas cotações chegavam atrasadas, às vezes em vários minutos. Ou seja, não dava para ser um day-trader a não ser que você trabalhasse dentro da bolsa.

Mas o Livermore não fazia dinheiro com day-trades? Sim, fazia, porém lembre-se que ele operava nas bucket shops. Como não eram ações reais, tanto fazia se as cotações estavam atrasadas pois você não negociava com ninguém e sim, apostava contra a casa com sua “liquidez infinita”.

E o que aconteceu com o Grande Urso de Wall Street ao começar a operar de verdade?

O suficiente para ele dizer:

Eu não paro de perder dinheiro!

Isso apenas porque as cotações atrasadas o destruíram!

Exemplo, ele queria fazer um counter-trade numa ação que estava entre 20 e 22 dólares. Mandaria uma ordem de compra no mercado quando o papel se aproximasse de 20. Mas se as cotações estivessem atrasadas, quando a ordem chegasse à bolsa de valores, ela poderia ser executada só em 21 ou 22, tarde demais para um counter-trade! Ou pior, o preço poderia continuar caindo, deixando-o com ações compradas em sei lá, 18, valendo cada vez menos. Era ruim de qualquer forma!

É exatamente por isso que todos os grandes especuladores do século passado utilizavam sistemas trend-following. Dessa forma, se suas ordens fossem executada tarde demais, ainda seria possível lucrar. Existiria uma margem de segurança por estar seguindo a tendência dos preços.

Hoje não precisamos pensar nisso pois as cotações são em tempo-real, com atraso de no máximo, alguns segundos. O que possibilita a utilização de sistemas counter. Mas naquela época, seria quase como se estivéssemos especulando num tosco simulador da bolsa com atrasos de 15 minutos!

Pois é, era isso o que eu tinha a dizer sobre o assunto. Se você quiser acrescentar algo ou tiver alguma dúvida ou sugestão, não hesite em comentar!

1 Comments

  1. Carlos Silva Gomes 25 de dezembro de 2023at15:21

    Cara, muito legal ver o quanto os caras se ferravam pra operar antigamente, e hoje em dia com todas essas ferramentas disponíveis o único inimigo da banca somos nós mesmos!

    Reply

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