Caro leitor,
Esta é a lição mais importante (e mais ignorada) que eu aprendi em meus 16 anos de experiência com trading.
Se você entender o que está escrito aqui, você terá resultados melhores do que com todos os cursos que você já fez, por mais caros que eles tenham sido.
Isso é uma promessa.
Então vamos ao que interessa.
O que te impede de ter sucesso no trading é não entender o seguinte:
É tudo uma questão de sofisticação de mercado.
Pegue as ações, por exemplo.
Quando as primeiras ações da Dutch East India Company foram lançadas na primeira bolsa de valores do mundo em 1602 na Holanda, os dividendos não eram de 5% ou 6% como eram hoje.
Naquela época, em que NINGUÉM sabia o que eram bolsas de valores e no mundo só existia UMA, os dividendos pagos pela Dutch East India, ou VOC, ficaram em uma média de 18% ao ano ao longo de 200 ANOS.
Cite um dividendo absurdo e constante por tantos anos hoje e ninguém vai acreditar.
Por quê?
Porque hoje existe competição.
Hoje existem mais investidores atentos.
Se algo assim acontecesse hoje as pessoas logo ficariam sabendo da oportunidade e comprariam a ação em massa, fazendo o preço subir e o valor em % do dividendo, diminuir.
E com isso? A sofisticação do mercado faria a sua vítima, pegando um investimento absurdamente lucrativo e transformando-o num mercado apenas lucrativo.
Se antes 18% ao ano, TODOS OS ANOS era o normal, hoje talvez um dividendo de 6% já seja motivo de comemoração.
É verdade que taxas de juros impactam muito nesses cálculos e estimativas, mas o ponto é:
A bolsa de valores era muito mais rentável quando NINGUÉM SABIA DELA.
Isso acontece em TODOS os aspectos dos investimentos.
Seja investimento em valor…
Seja trading.
Quando futuros de commodities foram lançados nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado financeiro torceu a cara:
“Mano, como assim algodão? Eu vou investir em algodão? Isso não paga dividendos, isso não vai ter crescimento, isso não é um investimento sério.”
Mas enquanto o mercado ignorava as commodities, Jesse Livermore fez fortuna operando justamente essa classe de ativos que ninguém dava bola.
Algumas décadas mais tarde, em 1989, os famosos Turtle Traders de Richard Dennis fizeram fortuna e alcançaram a fama operando justamente futuros que o mercado aos poucos começava a levar a sério.
Obviamente, isso chamou atenção demais e o que aconteceu?
O mercado de futuros cresceu drasticamente e as rentabilidades diminuíram.
Na verdade, a última década da estratégia nos EUA foi uma lástima, rendendo abaixo dos títulos públicos americanos, conhecidos por não pagarem basicamente nada.
Então, mais uma vez…
A sofisticação do mercado fez a sua vítima.
(A falta de inflação da última década pode ter sido responsável para impactar a rentabilidade das estratégias de managed futures dos CTA’s, como é conhecida nos EUA, mas mesmo assim o ponto é que a competição está muito maior.)
Temos tantos exemplos disso que chega a ser engraçado.
O grande Warren Buffett, famoso por ser o investidor mais bem sucedido de todos os tempos está a anos sem bater a rentabilidade do S&P500.
Mas lá no começo, quando ele tinha pouca grana e a indústria ainda estava começando, ele tinha resultado incríveis.
Por quê?
Veja essa imagem abaixo:
Esta imagem mostra a proporção de tipos de investidores da bolsa de valores americana de 1945 até 2020.
Agora vamos pensar.
Se Buffett começou a investir em 1941, aos 11 anos de idade e trabalhou como assessor e analista até comprar a Berkshire Hathaway em 1970…
Podemos ver claramente no gráfico que durante esse período, a bolsa de valores tinha praticamente apenas pessoas físicas investindo.
Em outras palavras: Buffett estava competindo com um monte de leigos.
Isso significa que foi fácil para ele? Claro que não, mas significa que naquela época era absurdamente mais fácil do que é hoje.
E com isso chegamos ao nosso ponto principal.
A única forma de ter sucesso nos mercados é operando o que poucos operam ou operando de um jeito que poucos operam.
Então se uma estratégia se tornou popular demais, se tem uma porrada de livros falando dela e se os YouTubers adoram ela e prometem fortunas para quem aplicá-la, eu te garanto:
Isso muito provavelmente funcionou no passado, mas agora É TARDE DEMAIS.
Veja o day trade, por exemplo.
Na época do Jesse Livermore, ele viu que era impossível ter sucesso no mercado por causa do delay das cotações da bolsa até o escritório dele, da slippage das ordens e também, das comissões da corretora, que eram muito mais caras do que são hoje.
Então ele desistiu do day trade porque era impossível.
Algumas décadas depois, os computadores chegaram e as taxas de corretagem diminuiram.
E através de estratégias de entrada e saídas rápidas, o day trade se tornou algo que finalmente teve a chance de funcionar.
E funcionou.
Por um tempo.
Porque novamente, o mercado sempre se sofistica.
E aos poucos a competição começou a aparecer, e com isso, o day trader começou a ter dificuldades.
Margens começaram a diminuir.
Taxa de acerto começou a sofrer.
Até o momento em que HFT’s pegaram o mercado pela garganta e sufocaram o day trader.
O mercado simplesmente morreu pela sofisticação.
E hoje?
Ser um day trader de sucesso é igual a ser um piloto de fórmula 1 de sucesso: é tão absurdamente difícil e tão para pouquíssimas pessoas realmente especiais e fora da curva que…
A ideia de alguém te “ensinar” a viver de day trade é, na melhor das hipóteses, desonesta, e na pior, criminosa.
Lembrando que estratégias, por melhor que sejam, começam a morrer conforme muitas pessoas começam a usar a mesma estratégia.
E como as de curtíssimo prazo quase sempre oferecem edges sensíveis, conte os “segredos” para algumas poucas pessoas e já era, não vai mais funcionar.
Novamente.
Você não pode competir com todo mundo.
A sofisticação de mercado chega um dia e você não tem como competir.
É por isso que TODAS as estratégias que funcionam são baseadas em fugir da competição o máximo possível.
E como se faz isso?
Existem duas maneiras.
A primeira é operar mercados menores, para tentar fugir dos profissionais.
Isso não é difícil de se fazer, mas normalmente envolve riscos maiores, principalmente de liquidez.
Já a segunda é operar de modos diferentes.
E combinados.
Tudo ao mesmo tempo.
Abaixo nós temos um gráfico que revela o Sharpe (referência de rentabilidade em relação a taxa livre de risco – quanto mais alto, melhor) ao longo de várias décadas dos 4 tipos de estratégias mais usadas pelos hedge funds e o que acontece quando usamos os 4 tipos ao mesmo tempo.
Note que as estratégias value, momentum/trend, carry e defensive são usadas pelos hedge funds americanos nos mercados mais sofisticados do mundo.
E nenhuma dessas estratégias é usar robô vendido em anúncio de Facebook, comprar relatório de research, seguir dica de assessor ou brincar com opções como o trader de varejo, um coitado explorado, costuma fazer.
Então novamente, temos 4 estratégias.
A primeira delas é value, ou valor, que é o que parece.
Benjamin Graham começou a popularizar a ideia de comprar ações que pagam bons dividendos, por preços atrativos e que possuem bom potencial de manter esses dividendos, ou até aumentá-los, ao longo do tempo.
É uma estratégia eficaz e extremamente difícil de ser aplicada.
Não adianta ficar olhando só os dividendos, o P/L e outras coisas que o investidor de varejo costuma ver (apesar de que láááá no início, isso funcionava melhor).
Para você escolher essas ações, você precisa ser completamente obcecado pelas empresas em si e ter tempo para fazer uma pesquisa bem feita.
Em outras palavras, se você não trabalha na área e não tem tempo para ficar o dia todo analisando empresas (como o próprio Buffett fez/fazia/faz), você não tem chance.
Sério.
0.
Mas funciona?
Sim, muito, muito bem mesmo.
Em segundo lugar, temos as estratégias de momentum e trend following.
As duas são diferentes, mas muito parecidas pois a base das duas é a mesma: ativos em movimento tendem a continuar em movimento.
Então o que está subindo, tende a continuar subindo.
E o que está caindo, tende a continuar caindo.
Essas estratégias funcionam a mais de 200 anos e em diversos mercados diferentes.
Então não é algo que eu inventei, é algo comprovado academicamente ao longo de várias décadas e ao longo de várias classes de ativos diferentes.
Olha só:
O gráfico acima mostra a rentabilidade acumulada de diferentes estratégias de Trend Following desde 1880 e, como você pode ver pela linha “TrendAll”, operar assim em diversas classes de ativos, funciona muito bem e com volatilidade aceitável.
Pensando em Sharpe, também temos resultados muito interessantes:
Com excessão de um ou outro ativo, no geral temos ótimos resultados.
Então momentum/trend following funcionam?
Sim.
Em terceiro lugar, temos as estratégias de carry, na qual você ganha o seu dinheiro com o puro passar do tempo.
Estratégias de dividendos, dependendo do ponto de vista, podem até ser consideradas como estratégias de carry, mas para não confundir, vamos considerar estratégias mais comuns.
Emprestar dinheiro de um país com baixas taxas de juros, como o Japão, para investir em um país com altas taxas de juros, como o Brasil é algo que funciona também a vários anos.
Comprar um contrato futuro de milho, por exemplo, em uma data em que não se colhe milho no mundo, e vender milho em uma data em que se colhe muito milho no mundo, gera uma oportunidade de carry também, graças ao spread que se abre ao longo do tempo.
Comprar ações pelos dividendos, emprestar essas ações como doador, vender futuros das mesmas ações e lucrar com o spread (que é basicamente taxa de juros), é algo comum no carry também.
Até estratégias mais novas, como vender futuros de criptomoedas com grande (e positiva) taxa de financiamento e comprar a mesma moeda à vista, também gera lucros do mesmo estilo operacional.
Então o carry é algo que os hedge funds sempre fizeram, mas o trader de varejo frequentemente não tem ideia nem de que existe (ainda bem, menos competição).
Finalmente, é interessante notar que o carry costuma funcionar nos momentos bons dos mercados enquanto o trend following funciona inclusive nos momentos ruins, gerando assim, uma “parceria perfeita” na hora de diversificação.
Em outras palavras:
Sharpe mais alto e menos volatilidade.
E funciona?
Sim.
Por último, temos as operações defensivas.
Uma operação defensiva vem da constatação ao longo de várias décadas de bolsa de valores que ações mais arriscadas e com maior potencial de retorno… raramente compensam o risco.
Estatisticamente falando, ações com menor beta (volatilidade, por assim dizer), costumam gerar mais retorno ajustado, proporcionando uma posição mais tranquila e rentável ao longo dos anos.
Isso vai completamente contra os desejos da esmagadora maioria dos gestores dos fundos de ações, por exemplo, que preferem se arriscar com as ações de crescimento para ter a chance de pegar uma bolada com suas taxas de performance.
Estatisticamente falando? Não compensa.
E a história aqui é basicamente a da lebre e a da tartaruga, em se tratando de investimentos, frequentemente low beta e high grade são termos encontrados nos investimentos mais rentáveis ao longo das décadas, ao contrário de high beta e high yield, como se era de esperar.
Note.
Essas estratégias de ponta são utilizadas mesmo em mercados mais sofisticados.
A diferença é que enquanto Jesse Livermore conseguia rentabilidade, às vezes, acima de 1000% no ano quando ele começou, hoje com as mesmas estratégias e um mercado ultra sofisticado, algo em torno de 5% é muito mais realista.
Na verdade, 5.4% ao ano foi a rentabilidade média dos hedge funds americanos durante os últimos anos, mesmo usando a maioria das estratégias que eu mencionei a pouco e tendo os melhores analistas do mundo.
Isso tudo porque alguns mercados ficaram sofisticados demais.
Nos Estados Unidos eles são sofisticados.
Na Europa eles são sofisticados.
Até no Japão eles são.
E no Brasil?
Pois é.
Se existe uma vantagem em morar em um país de terceiro mundo com uma economia desrespeitada na qual inflação de 2 dígitos não é tão incomum e pouquíssimos brasileiros investem, é o fato de termos mercados menos sofisticados.
Enquanto o americano pode esperar rentabilidades nominais de 6% a 9.0% no máximo do máximo, o brasileiro tem chances de alcançar rentabilidade maiores, chegando até 30% ao ano com alguma sorte.
Obviamente muito disso é inflação, mas ainda assim, a diferença de rentabilidade é muito grande justamente devido a sofisticação de mercado.
Porém, apesar do mercado brasileiro ser muito mais “fácil” que os internacionais, o problema é que os traders continuam se ferrando.
Isso acontece por diversos motivos, mas os mais comuns são:
- Competir com a nata da nata em mercados ultra competitivos (como os malucos que fazem day trade em mini índice).
- Arriscar muito mais do que o bom senso indica (querendo enriquecer rápido).
- Trocar de estratégias o tempo todo (normalmente, de uma que não foi testada para outra que não foi testada também).
- Otimizar estratégias o tempo todo para encontrar a ideal (e acabar over-fitando a estratégia ao ponto de não ter sentido estatístico nenhum).
- Aprender através de gurus muito bons de marketing que fazem promessas mirabolantes (ao invés de artigos e livros acadêmicos frequentemente difíceis de entender).
- Operar apenas um tipo de sistema ou mercado quando existem diversos mercados diferentes para operar (diversificação diminui a volatilidade e aumenta o Sharpe da carteira).
Então se você está sofrendo, muito provavelmente são por esses motivos.
Resolver todos eles não é fácil, dá muito trabalho e sem muita dedicação, é impossível superá-los.
Mas ao ter em mente o grande problema da sofisticação de mercado e de todos errinhos bobos citados acima que podemos cometer, nossas chances aumentam.
Demais e demais.
É por isso que esta é, sem dúvida, a lição mais importante sobre investimentos e trading que eu já dei e que você provavelmente vai ouvir em toda a sua vida.
E eu espero que você entenda isso.
Sofisticação de mercado é basicamente tudo.
Mais do que gestão de risco, psicologia e qualquer tipo de técnica.
Entendeu?
Então é isso.
Espero que você tenha gostado deste artigo.
Espero que com isso você tenha uma ideia melhor de como se tornar um trader mais capaz (mas apenas se você estiver no Brasil ou algum outro país de terceiro mundo, se for EUA ou Europa, arrume um emprego na área, eu garanto que você não vai conseguir fazer isso sozinho).
E espero que você tenha uma visão um pouco mais realista sobre as dificuldades e complexidades que encontramos nos mercados ao longo do tempo.
Obrigado e até a próxima,
Hugo Teixeira
PS: se você quiser saber mais sobre os tipos de estratégias realmente respeitáveis de trading, eu recomendo fortemente os livros do Antti Illmanen.
Hugo e equipe, boa noite! Muitíssimo obrigado.
Tenho 68 anos, e sou um pequeno investidor que uso parte dos dividendos da minha carteira, e reinvisto a outra parte. Fiz o seu curso de FII, e mudei para muito melhor os meus resultados.
Leio os seus textos e sempre aprendo algo novo.
Grande abraço.
Fico feliz que tenha tido bons resultados com os FII’s. Pelos preços atuais, este mercado está incrivelmente atraente. Obrigado pelo feedback. 🙂