Caro leitor,

Você já reparou numa coisa curiosa?

Parece que o governo, quando decide mexer em vespeiros tributários como o IOF, adora fazer isso fora do horário comercial.

Quase como se quisesse aprovar um aumento de aluguel enquanto o inquilino está dormindo.

Maldade?

Talvez não.

Mas é, sem dúvida, um sinal vital.

Um sinal de que o caixa de Brasília está com uma certa… taquicardia fiscal.

E quem aprende a ler esse eletrocardiograma das finanças públicas pode colher lucros interessantes antes que o susto completo chegue às manchetes dos jornais.

Pois é.

O IOF, ou Imposto sobre Operações Financeiras, é uma ferramenta peculiar.

Ele é o que eu chamo de “imposto-camaleão”.

Muda de cor – ou melhor, de alíquota – conforme o Tesouro se sente ameaçado ou precisa de um reforço rápido de caixa.

E por que justamente o IOF?

Simples: sua alteração não exige a mesma novela legislativa de outros tributos. Basta um decreto.

Dinheiro rápido para o governo.

Dor de cabeça (ou oportunidade) para o mercado.

E aqui está o pulo do gato para nós, investidores:

Quanto mais o governo “cutuca” o IOF, maior tende a ser o buraco fiscal que ele está tentando tapar.

Recentemente, vimos isso claramente.

O governo elevou diversas alíquotas do IOF.

O objetivo? Arrecadar uns R$ 20,5 bilhões a mais para fechar as contas de 2025.

Mas, como era de se esperar, a reação do mercado e do Congresso foi imediata.

E negativa.

Tão negativa que, poucas horas depois do anúncio, o governo já recuou em dois pontos específicos.

É quase como um alarme de incêndio.

Quando ele dispara, é porque há fumaça em algum lugar.

E, neste momento, o alarme do IOF está soando com uma certa insistência.

O epicentro desse tremor atual?

A nova tributação sobre o chamado “risco sacado”.

Uma operação comum, onde empresas antecipam pagamentos a fornecedores com o apoio de instituições financeiras.

Antes, não havia uma previsão explícita de IOF sobre isso.

Agora há.

Foi formalmente reconhecido como operação de crédito e, portanto, tributável.

E quem paga essa conta adicional?

As empresas, é claro.

O custo de capital delas aumenta.

Pense numa companhia que já opera com margens apertadas ou que possui um endividamento relevante.

É um golpe direto no caixa.

E o mercado, esperto como é, não espera os balanços trimestrais para reagir.

As cotações das ações dessas empresas mais vulneráveis podem sentir o impacto bem antes, à medida que os investidores ajustam suas expectativas.

Mas, como em toda crise, ou em todo sinal de fumaça, existe também a oportunidade.

Oportunidade para quem sabe onde olhar e, principalmente, como interpretar os sinais.

Enquanto alguns setores sentem o calor mais forte, outros podem se mostrar mais resistentes.

Ou até mesmo se beneficiar indiretamente.

Pense nas exportadoras, por exemplo.

Historicamente, um cenário de maior incerteza fiscal no Brasil tende a pressionar o real para baixo, valorizando o dólar.

Para quem vende lá fora e recebe em moeda forte, isso pode ser positivo.

Bancos e fintechs com boa capacidade de gestão também podem encontrar caminhos.

Seja repassando custos de forma ágil ou oferecendo produtos de hedge (proteção) contra o risco de crédito que se eleva.

E não podemos esquecer dos bons e velhos títulos públicos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA.

Em momentos de desarranjo fiscal, eles funcionam como um guarda-chuva quase automático.

Então, como você, investidor atento, pode usar o “Alarme IOF” a seu favor?

Não se trata de prever o futuro com uma bola de cristal.

Longe disso.

Trata-se de reagir de forma inteligente aos sinais que o próprio mercado e o governo nos dão.

Primeiro passo: sem pânico. O medo é o pior conselheiro.

Segundo: mapeie o terreno. Quais empresas são mais dependentes de operações como o risco sacado? Quais têm dívidas elevadas atreladas ao capital de giro?

Terceiro: acompanhe o Congresso. A pressão para derrubar o decreto é real. Mais de 20 Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) estão na agulha. O governo vai ceder mais? O Congresso vai derrubar tudo?

Essa disputa é, em si, um fator de volatilidade e oportunidade.

Quarto: ajuste sua exposição. Enquanto o cenário ainda está nebuloso e o Congresso debate, podem surgir assimetrias. Empresas sendo precificadas com um pessimismo exagerado, ou outras ainda não refletindo o risco real.

É nesse intervalo, entre o alarme e a chegada dos bombeiros (ou a constatação de que o incêndio era menor do que parecia), que o investidor preparado pode atuar.

Percebe a lógica?

Não é sobre adivinhar. É sobre observar, analisar e agir com base em probabilidades e no comportamento histórico do mercado diante de situações semelhantes.

Da próxima vez que você ouvir no noticiário “IOF subiu” ou “governo mexe no IOF de novo”, não pense apenas em mais um imposto chato.

Imagine a sirene do prédio tocando.

Alguns vão sair correndo, assustados com a fumaça.

Outros, com o equipamento certo, podem encontrar uma oportunidade de comprar ativos chamuscados com um bom desconto.

Ou, quem sabe, vender alguns baldes d’água para quem está desesperado.

Quem aprende a ler esse tipo de alarme fiscal não necessariamente teme o incêndio.

Às vezes, encontra formas de lucrar com ele.

E, o mais importante, volta para casa sem cheiro de fuligem.

Atenciosamente,

Hugo Teixeira

Consultor de Valores Mobiliários Autorizado pela CVM; Especialista de Investimentos Certificado pela ANBIMA; Trader e Investidor Profissional há 17 Anos

PS: Uma curiosidade: essa tática de anunciar medidas impopulares em horários ou momentos de menor atenção pública não é exclusividade brasileira, nem se limita ao IOF. Governos ao redor do mundo, por vezes, utilizam estratégias semelhantes. Fica a dica para estarmos sempre atentos aos “sinais fracos” ou “alarmes silenciosos” que o poder público emite. Muitas vezes, eles dizem mais do que os discursos oficiais.

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