Caro leitor,
Você provavelmente viu a notícia.
Ou pelo menos ouviu o burburinho.
Luís Stuhlberger, um nome de peso no mercado, soltou a bomba:
Brasil e Estados Unidos estão empatados no topo de um ranking nada desejável.
O de “pior situação fiscal do mundo”.
Com déficits nominais flutuando entre 7% e 10% do PIB, a coisa parece feia.
Assustadora, até.
O cenário que Stuhlberger pinta envolve risco de estagflação.
Incerteza.
Problemas com tarifas comerciais lá nos EUA que podem respingar aqui.
A primeira reação?
Preocupação. Talvez até um pouco de pânico.
Afinal, quem quer estar associado ao “pior do mundo” em qualquer coisa, ainda mais nas contas públicas?
Soa como um atestado de incompetência, um sinal de que as coisas só podem piorar.
Mas… e se eu te dissesse que essa pode ser, paradoxalmente, uma das notícias mais interessantes que você poderia ouvir como investidor?
Parece loucura?
Talvez.
Mas pense comigo por um instante.
Imagine uma mola.
Quanto mais você a comprime, mais força ela acumula.
Quanto maior a pressão, mais potente será o salto quando ela for liberada.
Estar na pior situação fiscal do mundo é como estar com essa mola comprimida ao máximo.
O pessimismo está no auge.
A desconfiança é generalizada.
Os preços dos ativos, muitas vezes, refletem esse cenário sombrio.
Mas é justamente aí que mora a oportunidade escondida.
Pense no “Efeito Mola Fiscal”.
Quando você já está no fundo do poço (ou perto dele), qualquer movimento para cima, por menor que seja, tem um impacto desproporcional.
Se o Brasil ou os EUA, com suas contas nesse estado lastimável, demonstrarem o mínimo sinal de compromisso sério com o ajuste fiscal…
Se conseguirem implementar uma reforma que seja, uma medida crível para colocar a casa em ordem…
O que acontece com a confiança dos investidores?
Ela não melhora um pouquinho.
Ela pode DISPARAR.
Cada ponto percentual de melhora no déficit, cada sinalização de responsabilidade, funciona como liberar um pouco da pressão naquela mola.
O potencial de valorização de ativos, de atração de capital, de retomada do crescimento, é imenso.
Porque a base de comparação é péssima!
É muito mais fácil impressionar quando a expectativa é zero.
Agora, some a isso outro fator: a força que nasce da adversidade.
Países como Brasil e EUA, que convivem há tempos com crises, instabilidade política, e solavancos econômicos…
Desenvolvem uma espécie de “casca grossa”.
Investidores, empresários, e até mesmo os governantes (às vezes) aprendem a navegar na turbulência.
Essa constante necessidade de apagar incêndios, de encontrar soluções criativas para problemas complexos, pode gerar uma resiliência e uma capacidade de adaptação que economias mais “estáveis” talvez não tenham.
A urgência de resolver um problema fiscal tão grave pode ser o catalisador para inovações.
Para mudanças estruturais que, em tempos de calmaria, jamais sairiam do papel.
Pode forçar a busca por eficiência, por novas fontes de receita, por modelos de gestão mais modernos.
É como um time que está perdendo feio e, no desespero, arrisca uma jogada ousada que vira o jogo.
Stuhlberger mesmo aponta um paradoxo interessante na notícia:
Enquanto critica a situação fiscal, ele menciona que o Brasil pode sair “muito beneficiado” da guerra comercial iniciada por Trump.
Por quê? Porque nossa balança comercial equilibrada com os EUA nos coloca numa posição vantajosa em relação a outros países que sofrem mais com as tarifas.
Veja só: mesmo no meio do caos fiscal e da incerteza global, surge uma janela de oportunidade.
Isso reforça a ideia de que “quem já viu de tudo” pode surpreender.
Economias que já enfrentaram hiperinflação, crises de dívida, impeachments, guerras comerciais…
Elas não quebram tão fácil.
Elas aprendem, se adaptam, e, eventualmente, encontram um caminho.
Essa capacidade de lidar com a volatilidade, essa “memória muscular” para enfrentar tempos difíceis, pode ser um ativo intangível valiosíssimo.
Pode gerar lideranças empresariais mais resilientes.
Pode abrir espaço para investimentos em setores que aprenderam a prosperar mesmo com o vento contra.
Claro, nada disso é garantia.
O “potencial” só se realiza com ação.
Tanto o Brasil quanto os EUA precisam fazer a lição de casa.
Precisam ter a coragem política de tomar medidas impopulares, mas necessárias.
O risco de continuarem na inércia e aprofundarem a crise é real.
Mas a questão para você, investidor, é a perspectiva.
Onde a maioria vê apenas o “pior fiscal do mundo” e foge assustada…
Talvez esteja a maior assimetria de risco/retorno dos próximos anos.
A possibilidade de um “salto” monumental, caso a mola fiscal seja finalmente liberada.
É olhar para o fundo do poço não como um destino final, mas como o ponto de partida com o maior potencial de subida.
É entender que, nos mercados, o consenso geralmente já está precificado.
A verdadeira oportunidade muitas vezes reside no cenário que ninguém quer acreditar.
Então, da próxima vez que você ler uma manchete catastrófica sobre o fiscal do Brasil ou dos EUA…
Respire fundo.
Lembre-se da mola.
Pergunte-se: e se o pior já tiver passado? E se o ponto mais baixo for, na verdade, o início da virada?
Pensar diferente da manada nem sempre é fácil.
Mas quase sempre é onde o dinheiro inteligente está.
Atenciosamente,
Hugo Teixeira
Consultor de Valores Mobiliários Autorizado pela CVM; Especialista de Investimentos Certificado pela ANBIMA; Trader e Investidor Profissional há 17 Anos