Caro leitor,

Imagine a cena.

Você passou meses pesquisando, juntando dinheiro e sonhando com a compra de um imóvel. Um dia, navegando por um portal imobiliário, você encontra algo que faz seu coração acelerar.

Um apartamento em um bairro que você gosta, com um tamanho decente, anunciado por R$700 mil.

O detalhe? Todos os apartamentos similares naquela mesma rua, naquele mesmo prédio, estão sendo vendidos por R$1 milhão.

É um desconto de 30%. Uma pechincha. A oportunidade que você estava esperando.

A primeira reação, a da imensa maioria das pessoas, é uma euforia cega. Um senso de urgência. ‘Preciso ligar agora, antes que outra pessoa pegue!’. O medo de ficar de fora (o famoso FOMO) grita mais alto que a razão. A pessoa já se imagina mudando, decorando, vivendo ali.

Ela vê o preço, e apenas o preço. E o preço é baixo.

Mas você, como um investidor que busca ser mais inteligente que a média, para e respira.

A primeira pergunta que vem à sua mente não é ‘Qual o telefone do corretor?’, e sim uma muito mais importante:

‘Por quê?’

Por que este apartamento específico está tão mais barato que seus vizinhos idênticos?

Afinal, ninguém rasga dinheiro. Se o proprietário está abrindo mão de R$300k, deve haver um motivo. E esse motivo raramente é a sua sorte grande.

Então, você começa a investigar.

Você descobre que aquele apartamento específico tem um problema crônico de infiltração que já danificou a estrutura. O conserto, segundo três orçamentos diferentes, custaria no mínimo R$250k.

Além disso, o antigo morador deixou uma dívida de condomínio de R$50k que, por lei, acompanha o imóvel e teria que ser paga pelo novo proprietário.

Some os dois. R$250k + R$50k = R$300k.

De repente, o ‘desconto’ de R$300k desapareceu. Ele não era um desconto, era o custo dos problemas escondidos.

Então R$700k não era uma oportunidade, era uma armadilha calculada para atrair quem olha apenas para a etiqueta de preço e não para o produto.

O preço era baixo, mas o valor real era ainda mais baixo.

Essa história do apartamento-cilada é exatamente o que acontece todos os dias no mercado de Fundos Imobiliários (FIIs).

E a armadilha tem um nome, um código de 4 letras que seduz e engana milhares de investidores iniciantes: P/VPA.

O Indicador que Parece Simples (e Por Isso é Tão Perigoso)

Se você já começou a estudar FIIs, certamente cruzou com esse indicador. Ele é, talvez, o mais famoso de todos.

A definição é simples:

  • P é o Preço da cota no mercado. É quanto as pessoas estão pagando por uma única cota daquele fundo hoje, na bolsa. No nosso exemplo, seria o preço de R$ 350.000 do apartamento.
  • VPA é o Valor Patrimonial por Cota. É o valor 'justo' ou 'contábil' do patrimônio do fundo, dividido pelo número de cotas. Basicamente, se o gestor vendesse todos os prédios, pagasse todas as dívidas e distribuísse o dinheiro, seria esse o valor que você receberia por cota. No nosso exemplo, seria o valor de R$ 500.000 do apartamento. 

Quando você divide um pelo outro (P/VPA), chega a um número.

  • Se o P/VPA é igual a 1, significa que o preço de mercado está igual ao valor patrimonial. O mercado está pagando o preço 'justo'.
  • Se o P/VPA é maior que 1 (ex: 1,10), o fundo está sendo negociado com 'ágio'. O mercado está pagando mais caro que o seu valor contábil.
  • Se o P/VPA é menor que 1 (ex: 0,70), o fundo está sendo negociado com 'desconto'. O mercado está pagando mais barato. 

A lógica do investidor iniciante, assim como a do comprador de apartamento eufórico, é imediata:

‘Ora, se o P/VPA abaixo de 1 significa ‘desconto’, então a regra é clara: só devo comprar FIIs com P/VPA abaixo de 1!’

Parece fazer todo o sentido do mundo, não é?

Pois é.

E é exatamente esse pensamento simplista que te coloca no mesmo caminho daquele que compra o apartamento com infiltração e dívida.

Porque, no mercado financeiro, a pergunta mais importante nunca é ‘O que?’, e sim ‘Por quê?’.

Um P/VPA de 0,75 não é um sinal de compra.

É um sinal de investigação.

Ele é o mercado inteiro gritando para você:

‘Pode existir uma razão para estarmos pagando apenas 75 centavos por cada real de patrimônio deste fundo!’.

Sua tarefa não é comprar cegamente, mas sim descobrir qual é essa razão.

Assim como no caso do apartamento, os motivos podem ser os ‘problemas estruturais’ do fundo.

E eles podem ser vários:

  1. A Qualidade dos ‘Inquilinos’ (Inadimplência e Risco de Vacância)

O patrimônio de um fundo pode parecer robusto no papel, mas se os inquilinos dos seus imóveis são de baixa qualidade, com alto risco de não pagarem o aluguel (inadimplência) ou de saírem e deixarem o imóvel vazio (vacância), o mercado vai precificar esse risco.

O mercado sabe que o fluxo de aluguéis pode secar, e joga o preço da cota para baixo.

Você vê um P/VPA de 0.80, mas o mercado está vendo um inquilino que pode quebrar no mês que vem.

  1. A Qualidade dos Imóveis (A ‘Localização’ e o ‘Acabamento’)

O patrimônio de um fundo de lajes corporativas pode ser de R$ 1 bilhão.

Mas se esses prédios são antigos, mal localizados, com tecnologia ultrapassada e necessitando de reformas caríssimas para competir com prédios novos, o mercado sabe disso.

Ele sabe que será difícil alugar esses espaços no futuro pelo preço que o gestor gostaria.

É o apartamento com ‘potencial’ na teoria, mas que na prática é velho e ultrapassado.

O preço cai.

  1. A Qualidade da Gestão (O ‘Síndico’ do Fundo)

Este é um dos fatores mais cruciais e mais ignorados.

Um fundo pode ter ativos excelentes, mas se a equipe de gestão é ruim, inexperiente, pouco transparente ou toma decisões que beneficiam mais a própria gestora do que os cotistas, o mercado pune.

Uma gestão que não consegue negociar bons contratos, que não consegue manter os imóveis alugados ou que se alavanca de forma irresponsável destrói valor.

O P/VPA baixo pode ser um voto de desconfiança do mercado na competência de quem comanda o barco.

  1. O Valor Patrimonial Desatualizado (A ‘Avaliação’ Antiga)

O valor patrimonial não é um número que muda todo dia. Ele é, geralmente, atualizado por laudos de avaliação anuais.

Agora, imagine um FII de shoppings cujo patrimônio foi calculado no final de 2024, antes de um grande concorrente inaugurar um shopping center moderno bem ao lado.

O mercado, que é dinâmico, já sabe que o fluxo de pessoas e as vendas daquele shopping antigo vão cair.

O mercado já ajustou o preço da cota para baixo, antecipando que o próximo laudo de avaliação (o patrimonial futuro) virá menor.

Quem compra olhando o P/VPA ‘barato’ de hoje, está olhando para uma fotografia antiga.

‘Então, Hugo, quer dizer que P/VPA baixo é sempre ruim?’

Não. E é aqui que separamos os amadores dos investidores eficientes.

Às vezes, o mercado exagera.

Uma crise generalizada pode derrubar o preço de TODOS os FIIs, inclusive os bons.

Problemas pontuais em FIIs específicos ou questões de liquidez, também.

Nesses momentos, você pode encontrar um FII com gestão de ponta, imóveis de primeira linha e inquilinos sólidos sendo negociado com um P/VPA de 0.85 sem fazer sentido algum.

Isso é o equivalente a encontrar aquele apartamento perfeito de R$1kk sendo vendido por R$850k porque o dono precisa do dinheiro com urgência para uma emergência familiar.

O problema não é do imóvel, é do contexto.

Essa é a verdadeira oportunidade. É o ‘desconto’ real.

Mas para diferenciar um desconto real (pânico de mercado) de uma armadilha (problema estrutural), você não pode se contentar com a resposta fácil das 4 letras.

Você precisa de um método.

  1. Precisa ler os relatórios gerenciais, acompanhar outros informes do FII.
  2. Precisa entender quem são os inquilinos, quais os prazos dos contratos, qual a taxa de vacância do fundo e da região onde os imóveis estão.
  3. Precisa avaliar o histórico da gestão e no geral, fazer a sua lição de casa bem feita.

Olhar apenas para o P/VPA é como tentar dirigir olhando apenas para o velocímetro.

Ele te diz a velocidade, mas não te diz se há uma curva fechada, um buraco ou um muro logo à frente.

O investidor que prospera com FIIs não é aquele que encontra a fórmula mágica, é aquele que aprende a fazer as perguntas certas.

Ele não vê um P/VPA de 0.70 e pensa ‘Promoção!’.

Ele pensa:

’Ok, mercado.


Por que você está com tanto medo deste fundo?


Deixe-me ver se o seu medo é justificado… ou se é um exagero que eu posso aproveitar.’

Essa mudança de mentalidade é a fronteira entre continuar pagando a conta dos outros e começar a construir seu próprio patrimônio de forma sólida e consciente.

Pense nisso.

Atenciosamente,

Hugo Teixeira

Consultor de Valores Mobiliários Autorizado pela CVM; Especialista de Investimentos Certificado pela ANBIMA; Trader e Investidor Profissional há 17 Anos

PS: Agora você entende o P/VPA. A questão é: você tem o tempo, o conhecimento e a paciência para atuar como um detetive para cada FII que parece uma “oportunidade”? Analisar relatórios, a saúde dos inquilinos, a qualidade da gestão… esse é um trabalho que exige dedicação total.

PS2: Se a sua resposta for “não”, é exatamente aí que a nossa consultoria entra. Nosso trabalho é fazer essa “vistoria” completa para você, separando as verdadeiras pechinchas das armadilhas bem disfarçadas. Clique aqui para descobrir como usamos dados precisos para te ajudar a montar e manter uma carteira ideal, inclusive com FIIs que possuem realmente ‘imóveis em promoção’, sem os problemas escondidos.

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