Caro leitor,

A notícia sobre as tarifas de 50% dos EUA contra o Brasil caiu como uma bomba.

Seu primeiro instinto, provavelmente, foi correr para ver as projeções: quanto o PIB vai cair? Qual setor será o mais atingido?

Se foi isso que você fez…

Você caiu na armadilha.

Você está olhando para a sombra na parede, e não para o monstro que a projeta.

A verdade é que essa notícia não é sobre economia.

É sobre o fim de uma era.

E os investidores que não perceberem isso vão pagar um preço muito mais alto do que 1,2% do PIB.

Por quê?

Porque o mercado, tal como o conhecíamos, mudou.

O Fim do Xadrez, o Início do Pôquer

Por décadas, o mundo financeiro operou muito parecido com uma partida de xadrez.

Você tinha todas as peças no tabuleiro.

Os dados eram visíveis: inflação, juros, balança comercial, resultados de empresas.

As regras, embora complexas, eram fixas e amplamente compreendidas.

O jogo era sobre estratégia, lógica e previsibilidade.

Ganhava quem conseguia analisar melhor as informações e antecipar os movimentos do adversário com base em modelos racionais.

Se você dominasse os fundamentos, a matemática e a análise, você tinha uma chance real de vencer.

Mas agora?

Agora, o mercado virou uma mesa de pôquer.

Pense comigo.

No pôquer, você não vê todas as cartas. Você está constantemente lidando com informação imperfeita.

O jogo envolve blefes, psicologia, leitura de “tells”, aqueles sinais involuntários que revelam a força da mão do seu oponente.

E, muitas vezes, envolve ações que desafiam a lógica pura, porque o objetivo é desestabilizar, não apenas otimizar.

É exatamente isso que a carta de Trump ao governo brasileiro nos mostrou.

A justificativa da tarifa não se limitou a termos comerciais ou econômicos.

Ela mergulhou em temas como a “situação legal do ex-presidente Bolsonaro” e “decisões do Supremo Tribunal Federal do Brasil”.

Isso não é uma jogada de xadrez econômica.

É um “raise” agressivo na mesa de pôquer.

É o Tio Sam mostrando que as cartas podem ser qualquer coisa, que as regras do jogo podem ser subvertidas por capricho político.

É uma jogada para desestabilizar, não para equilibrar a balança comercial.

Essa é a diferença crucial que a maioria dos analistas está perdendo.

O “Tell” do Tio Sam: Por Que os Modelos Estão Quebrando

No pôquer, um “tell” é aquele tique, aquele gesto sutil que revela a verdade por trás da pose.

Pode ser um tremor na mão, um olhar prolongado para as fichas, uma mudança no tom de voz.

E o “tell” que o governo americano nos deu é CLARO: a política interna e a imprevisibilidade se tornaram uma arma poderosa.

Elas estão acima da lógica econômica tradicional.

É por isso que gigantes como JPMorgan e Goldman Sachs, dois dos maiores “jogadores” do mercado, olham para a mesma “mesa” e veem resultados completamente diferentes.

O JPMorgan projeta um impacto de 0,8% a 1,2% no PIB.

O Goldman Sachs, um pouco menos alarmista, fala em 0,3% a 0,4%.

Eles estão tentando usar matemática e modelos econômicos para prever um blefe psicológico e político.

Simplesmente não funciona.

É como tentar usar um manual de xadrez para prever o próximo movimento de um jogador de pôquer que acabou de blefar com uma mão fraca.

Os modelos econômicos foram construídos para um mundo de xadrez.

Eles calculam o impacto de tarifas com base em elasticidade de demanda, acordos comerciais e cadeias de suprimento.

Mas não conseguem precificar a irracionalidade política, a retaliação baseada em ressentimento ou a quebra de confiança institucional.

Como disse Solange Srour, do UBS: “Essas tarifas mostram que nossas relações institucionais entre países estão degradadas e danificadas.”

É a perda do “contrato social” entre nações que torna o jogo imprevisível.

Você ainda acredita que os mercados são 100% racionais?

Sua Carteira Está Pronta para o Blefe? (A Mentalidade do Jogador de Pôquer)

Em uma partida de xadrez, o foco é otimizar cada movimento para a vitória. Você busca a perfeição, o xeque-mate.

Em uma longa e imprevisível partida de pôquer, a mentalidade é diferente.

O jogador experiente não tenta ganhar todas as mãos. Ele gerencia o risco para sobreviver ao jogo. Ele sabe que vai perder algumas mãos, mas garante que tenha fichas suficientes para continuar jogando.

Como isso se traduz para os seus investimentos?

Não se trata mais de tentar adivinhar a próxima tarifa, a próxima sanção inesperada, a próxima “carta” que o Tio Sam vai mostrar.

Isso é impossível, e quem tentar será trucidado.

Trata-se de construir uma carteira que seja capaz de suportar a volatilidade, as reviravoltas e o caos inerente a um jogo onde as regras podem mudar a qualquer momento, sem aviso prévio.

Sua estratégia não deve ser apenas “à prova de recessão”, mas “à prova de caos”.

Ela precisa ser robusta o suficiente para sobreviver a um jogador irracional e imprevisível na mesa, que não joga pelas regras antigas.

Isso significa uma diversificação inteligente, que vai muito além dos setores ou países, alcançando diferentes classes de ativos, moedas e até estratégias.

Significa ter liquidez para aproveitar as oportunidades quando o desespero alheio cria pechinchas. Significa, acima de tudo, ter um plano claro e bem testado, que não se abala com manchetes e “tells” inesperados.

No final das contas, a grande lição desta crise não está nos gráficos de Excel. Está na natureza humana.

Em um mundo onde as regras são reescritas por capricho, o investidor mais preparado não é aquele que domina as planilhas.

Mas aquele que entende de psicologia.

O mercado deixou de premiar apenas os analistas e passou a exigir estrategistas.

Portanto, a pergunta que você deve se fazer hoje não é “quanto minha carteira vai cair com essa notícia?”.

A pergunta certa é: “Minha estratégia de investimentos foi construída para um jogo de xadrez ou para uma longa e imprevisível partida de pôquer?”

A resposta a essa pergunta definirá seu futuro financeiro.

Atenciosamente,

Hugo Teixeira

Consultor de Valores Mobiliários Autorizado pela CVM; Especialista de Investimentos Certificado pela ANBIMA; Trader e Investidor Profissional há 17 Anos

PS: Curiosamente, a ideia de que o mercado se move por “tells” e psicologia, e não apenas por lógica pura, é um princípio fundamental do Trend Following, uma estratégia que tem décadas de sucesso. Isso mostra que as “regras do jogo” para quem vence nunca foram puramente sobre números.

PS2: e se você estiver interessado em obter resultados melhores com os seus investimentos, descubra como eu posso te ajudar neste link aqui!

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