Caro leitor,

Saber em qual ciclo do mercado nós estamos não é uma tarefa necessariamente simples.

No entanto há um jeito simples de pelo menos ter uma boa ideia se o momento provavelmente é propício para tomar mais riscos ao investir na bolsa (investimento; não trading, veja bem).

E esse jeito é simplesmente se fazer a pergunta:

Como os outros investidores estão se arriscando no momento?

Ou seja:

Como o mercado de maneira geral está se comportando em relação ao risco?

Está todo mundo com medo de tomar mais riscos?

Ou está todo mundo bem-disposto a arriscar?

Ou nem uma coisa nem outra?

Pois aqui está uma das grandes verdades sobre os ciclos econômicos:

Eles são extremamente eficientes…

Em fazer a maior parte dos investidores se comportar do PIOR jeito possível.

Isto é: os investidores de maneira geral sempre reagem desproporcionalmente ao que o mercado está fazendo.

Isso é em grande parte porque eles não costumam ter noção dos ciclos do mercado.

Quando o mercado está subindo, por exemplo, são poucos os investidores que mantem em mente que isso faz parte de um ciclo.

E que esse ciclo mais cedo ou mais tarde vai acabar.

Consequentemente os investidores vêem que o mercado está subindo a algum tempo e logo começam a investir como se ele fosse subir para sempre.

Ou seja: eles param de ter medo dos riscos de investir na bolsa e começam a comprar com cada vez menos descrição.

Até que chega ao ponto em que os investidores deixam de buscar bons preços e começam a comprar de tudo – inclusive ações supervalorizadas – simplesmente porque não imaginam que o mercado pode voltar a cair.

É como se os investidores fossem navegantes que, depois de avançarem com tranquilidade alguns quilômetros de alto mar, decidem dar a volta ao mundo porque imaginam que, se não há tempestades agora, isso significa que não haverá tempestades no futuro também.

Ou seja: é uma loucura.

Mas isso, é claro, não é culpa dos investidores.

Afinal, os profissionais do mercado de maneira geral incentivam esse comportamento porque quando os investidores estão animados com a bolsa é muito mais fácil ganhar dinheiro em cima deles.

Essa desonestidade intelectual na verdade chega a um nível tão absurdo que nos ciclos de alta às vezes até surgem quem diga, literalmente, que risco é uma coisa do passado.

Foi o que aconteceu, por exemplo, nos EUA entre 2005 e 2007, quando surgiram diversas histórias absurdas para explicar por que o risco de investir na bolsa havia desaparecido.

  • Disseram que o risco de novos ciclos econômicos havia sumido em função de alterações no funcionamento do banco central.
  • Disseram que a globalização havia diluído o risco ao redor do mundo e que localmente ele não seria mais relevante.
  • Disseram que desenvolvimentos em computação haviam tornado possível dominar melhor o mercado, que por sua vez ficou muito menos arriscado.

Mas não importa quantas fantasias contaminem o mercado, ele sempre passa pelos seus ciclos.

E quanto maior o frenesi de compra em um ciclo de alta, pior é a crise do ciclo de baixa.

Isso foi justamente o que se provou em 2008, aliás, quando um dos maiores frenesis de compra da história resultou numa das piores crises financeiras da história.

E, apesar de o que aconteceu em 2008 foi catastrófico, aquela crise foi apenas um dos muitos exemplos que revelam o que acontece quando as pessoas ficam tão animadas com a bolsa que esquecem como ele pode ser perigosa.

E quando ignoram o fato de que nada torna a bolsa mais arriscada do que investidores que se convenceram de que o risco é menor do que ele realmente é.

Esse é o motivo pelo qual grandes investidores como Warren Buffett e Howard Marks vêm como um alerta vermelho quando a bolsa de valores se torna popular demais.

É sempre nesse momento que eles ficam mais cautelosos do que nunca e mudam de atitude. Enquanto os outros investidores arriscam mais e mais eles arriscam menos e menos.

O que serve para protegê-los quando inevitavelmente a tempestade vem para engolir os navegantes excessivamente otimistas que foram se aventurar tão irresponsavelmente em águas desconhecidas.

Agora, se quando todo mundo está animado com a bolsa é o pior momento para arriscar mais, então qual é o melhor momento para arriscar mais?

Novamente eu preciso apontar:

É mais complicado do que simplesmente olhar para o ânimo geral dos investidores.

No entanto, um bom indicador de que é um bom momento para arriscar mais é quando as pessoas estão em PÂNICO com o mercado.

Não apenas frustradas ou desanimadas.

Mas realmente desiludidas, ao ponto em que falar em bolsa se torna quase um tabu.

Ironicamente esses costumam ser os momentos mais seguros de todos para investir na bolsa.

Pois lembre-se que o investidor médio tende a reagir desproporcionalmente ao que quer que o mercado esteja fazendo.

E isso significa inclusive que quando o investidor está desiludido as coisas raramente são tão ruins quanto parecem.

O que por sua vez significa que os ativos ficam muito subvalorizados, de modo que seus potenciais de valorização se tornam muito maiores, tal como as probabilidades de que eles realmente cumpram com esse potencial.

É justamente por isso que quando há uma crise e todo mundo está arrancando os cabelos grandes investidores começam a comprar mais do que nunca.

Conclusão:

Mais uma vez só para acabar com qualquer possibilidade de dúvida:

Você não pode tomar decisões de investimento apenas com base em como o investidor médio está reagindo à bolsa.

No entanto, dito isso, a forma como o investidor médio está reagindo à bolsa em qualquer momento é REALMENTE importante e significativa.

De modo que quando você notar o mercado muito otimista ou muito pessimista é hora de olhar as coisas mais de perto.

Pois dependendo da situação você pode estar no meio de uma grande oportunidade… ou prestes a testemunhar o fim de um ciclo de alta.

Atenciosamente,

Hugo Teixeira

Consultor de Valores Mobiliários Autorizado Pela CVM; Especialista de Investimentos Certificado Pela ANBIMA; Trader e Investidor Profissional há 14 Anos

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