Todos nós conhecemos o “garoto especulador”, do ótimo livro Memórias de um Operador da Bolsa, escrito por Edwin Lefèvre em 1923. Sabemos também que, Jesse Livermore, tão famoso trader do início do século passado, cometeu suicídio no dia 28 de novembro de 1940. Portanto, hoje fazem exatamente 69 anos do “aniversário de morte” do Grande Urso de Wall Street.
Essa matéria de duas partes apresentará uma mini-biografia com os momentos mais importantes da vida de Livermore como os seus casamentos, o roubo de sua mansão por Boston Billy, suas vendas à descoberto que lhe renderam 100 milhões de dólares na crise e 29, e todas as tragédias que o levaram aos seus momentos finais, pouco antes dele ter desistido de tudo definitivamente. Boa leitura.
Um homem de família
Lembra daquele parte no “Memórias…” em que diz que quando ele deu 500 dólares para sua esposa, ela usou o dinheiro comprando uma ação da qual ouviu um palpite e no mesmo momento em que ela comprava, seu marido estava vendendo a mesma ação à descoberto? Essa mulher era Dorothy Livermore, a segunda esposa de Jesse. A primeira foi Nettie Jordan, ela o largou em sua segunda falência, tirando muito dele no processo de divórcio. Ok, voltando, Dorothy era do show biz, ela apresentava em shows, era muito animada, extrovertida, engraçada e jovem, foi apresentada à Jesse por um amigo, eles se gostaram e decidiram se casar em dezembro de 1918, quando ela era ainda uma pivetinha de 18 anos, Jesse tinha 41 anos. Com sua nova esposa, Livermore continuou a não ser nada econômico, gastava uma grana absurda com Dorothy, jóias e mais jóias, viagens à Europa, um Rolls-Royce, e mandou construir uma mansão enorme que seria posteriormente decorada com as coisas mais caras e desnecessárias que o dinheiro poderia comprar, como um tapete persa de 120 mil dólares.
Em 1919, o casal teve seu primeiro filho, Jesse Jr, nome super original, quatro anos depois, no ano de lançamento de “Memórias…” e pouco antes da mansão, chamada de Evermore, ser terminada, nasceu o segundo filho, Paul. Obviamente os dois foram mimados, mas Jesse Jr. era mais encrenqueiro e Paul era mais tranquilo.
Medo? Segurança, segurança!
Em um clube em Palm Beach em 1925, Louis Goldstein, amiga dos Livermore, ouviu dois homens conversando sobre a idéia de sequestrarem um dos filhos de Jesse e pedirem como resgate a quantia de 1 milhão de dólares. Os homens acreditavam que era uma quantia muito pequena para o famoso especulador. Eles notaram a presença de Louis e saíram correndo, ela foi avisar Jesse, que contratou guarda-costas particulares para seus filhos. Esse foi um dos primeiros eventos fora dos mercados que começou a perturbar Livermore, a segurança de sua própria família.
Em 29 de maio de 1927, a mansão Livermore foi roubada por um grupo composto de 4 pessoas. Arthur Barry, sua namorada Anna Blake, James F. Monaghan, conhecido como “Boston Billy” e um ex-motorista de Jesse chamado Eddie Kane. Eles esperaram dentro do terreno da mansão, que era enorme, até às 3h30 da manhã, quando decidiram agir. Barry e Monaghan iriam roubá-los, Kane e Blake ficariam vigiando e de prontidão esperando eles voltarem para todos fugirem de carro. Os assaltantes colocaram uma escada perto de uma das janelas da mansão, a arrombaram facilmente e entraram. Só que eles fizeram barulho apesar do cuidado. Dorothy ouviu e acordou, decidiu acordar Jesse também, os dois continuaram ouvindo os barulhos quando Dorothy decidiu investigar, ela se vestiu e ao sair para os corredores, deu de cara com os assaltantes, um deles disse para ela voltar ao quarto com seu marido e pra eles não saírem de lá. Ela obedeceu e voltou para o quarto, com os assaltantes atrás.
Chegando lá, Monaghan quis saber dos convidados, logo descobriu onde Harry Aronhson, um rico negociante de seda, e sua esposa estavam. Ele foi até os visitantes e anunciou o assalto, pegou 200 dólares do casal, deixou 2 dólares para eles e disse que era para o táxi de volta, comentou que eles só deveriam sair quando Jesse e Dorothy os encontrassem, ou seja, quando os assaltantes já estivessem longe. Depois foi a vez dos donos da casa, Barry e Monaghan queriam saber onde estava o cofre, quando viram que não tinha nada de útil dentro dele, decidiram levar jóias, daquelas típicas de 15 mil ou 80 mil dólares. Logo depois foram embora, a operação toda levou por volta de 10 minutos.
A polícia foi chamada. Livermore ficou sabendo que esse era um grupo conhecido por roubar pessoas ricas, como ele, os Aronhson’s (apesar de terem perdido só 200 dólares) e Percy G. Rockefeller. Com as informações em mãos, Livermore decidiu colocar detetives particulares ao redor de sua mansão para protegê-los enquanto a polícia tentava recuperar os mais de 100 mil dólares em jóias roubadas da sua mansão. Eventualmente Barry foi preso, ele fez um acordo com a polícia para pegar Monaghan, por vários meses tentaram pegar os outros criminosos e eventualmente conseguiram. Monaghan pegou 50 anos de prisão, Barry pegou 25 anos de prisão com trabalho forçado, Eddie Kane ficou com 3,5 à 5 anos e Anna Blake não pegou nada pois seu namorado limpou sua barra.
Apesar de nada de muito sério ter acontecido, as preocupações de Livermore com segurança iriam aumentar.
A crise de 1929
Livermore estava fortemente vendido durante a crise de 29, ele percebeu os alertas de mudança da forte e longa tendência altista com suas ferramentas como pontos pivôs e reversões de um dia, a festa estava acabando para os comprados. Naquela época ele vendeu tudo que foi possível, General Electric, Chrysler, AT&T, U.S. Steel e várias outras. No final da década de 20, a bolsa de valores era coisa da moda, logo, várias classes sociais participavam, portanto quando a crise chegou, enquando Jesse Livermore fazia millhões, pessoas comuns estavam perdendo tudo e mais um pouco. Ok, azar o delas não é? Depende.
O fato de estar fazendo aproximadamente 100 milhões de dólares, seu maior sucesso até então, não serviu para alegrar Livermore quando várias pessoas estavam enviando cartas e telefonando em seu escritório, ameaçando-o e sua família de morte. Muita gente achava que uma única pessoa podia controlar o mercado inteiro. Como Jesse era conhecido como o “Grande Urso de Wall Street”, todos sabiam que ele vendia à descoberto e em grandes quantias, logo, somando 2+2, chegaram à conclusão idiota de que ele tinha sido o responsável por toda a situação, era ele que estava arruinando as vidas de várias pessoas. Colocaram a culpa nele sem considerar que foram eles que foram estúpidos o suficiente para colocarem todas suas economias em algo que elas não entendiam ao mesmo tempo em que abusavam de uma enorme margem de 1:10. É sempre mais fácil colocar a culpa nos outros do que admitir sua própria estupidez.
Todas essas ameaças começaram a afetar ainda mais Livermore, sua obcessão com a segurança de sua família crescia ainda mais, o que significava paranóia e mais dólares a serem gastos com detetives particulares e etc. Irônicamente nada disso seria o suficiente.
O início do fim
Em 1930, Jesse já não estava mais com aquele pique todo. Sua esposa, Dorothy, bebia demais e não largava de sua mãe, que morava em Evermore. As duas pareciam ter apenas um propósito na vida, gastar todo o dinheiro que recebiam. O tempo em que Dorothy passava com sua mãe começou a incomodar Jesse, que estava ficando com ciúmes. Como sua esposa também dava muitas festas o tempo todo, era natural que ele conhecesse muitas mulheres atraentes. Juntando o stress, o ciúme e seu estado cada vez mais letárgico, Jesse Livermore traiu sua esposa. Os rumores correram, Dorothy confrontou seu marido perguntando se era verdade ou não, e se fosse, ele deveria parar. Livermore disse que eram só mentiras.
Seus casos continuaram e os rumores aumentaram, chegou em um ponto em que não tinha mais como negar. Dorothy descobriu tudo. Ela nunca tinha estado com outro homem além de Livermore, ela se sentiu frustrada, magoada e acabou se vingando, tendo um caso com um funcionário do Tesouro. Eles ficaram se “enganando” por algum tempo até que decidiram terminar tudo, o casal Livermore se divorciou em setembro de 1932.
Dorothy ficou com a mansão Evermore, as jóias, um fundo de renda do valor de 1 milhão de dólares para ela e para cada um dos meninos. Ficou também com um portfolio de ações, avaliada em um outro milhão, que na década de 50 aumentaria seu valor para aproximadamente 50 milhões, porém ela preferiu vender tudo e comprar debêntures de empresas toscas que acabaram falindo, prejuízo total. Dorothy também ficou com a custódia de Jesse Jr. e Paul. O “Grande Urso de Wall Street” estava aos poucos perdendo tudo.
Continua em Jesse Lauriston Livermore: 1877 – 1940 Parte 2…
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