Caro leitor,
Hoje eu quero te recomendar Margin Call, já ouviu falar?
O filme é um daqueles thrillers bem intensos que acontece todo num curto período (no caso 24 horas) e numa única locação (um banco de investimentos ficcional e não nomeado, mas que claramente é inspirado no Lehman Brothers).
E o enredo é o seguinte:
É 2008 e, mesmo antes da grande crise atingir, Wall Street está sofrendo com a recessão que se iniciou em dezembro de 2007 nos EUA.
É nesse contexto que um grande banco está executando uma onda de demissões que põe na rua até funcionários essenciais.
O clima é de aborrecimento e tristeza enquanto os funcionários se despedem de colegas e amigos de longa data,
Vários dos quais são tratados de formas humilhantes e injustas simplesmente porque isso “faz parte do jogo”.
No entanto, a situação vai de mal a pior quando um analista do departamento de risco completa o trabalho do chefe recém-demitido, e faz uma descoberta chocante:
Aquilo que se tornaria uma das maiores crises financeiras do mundo está prestes a começar, e para o banco em si isso significará a falência.
Ainda: essas perdas podem vir a se concretizar em questão de dias.
Assim, imediatamente é feita uma reunião de emergência entre os funcionários que fizeram a descoberta e o CEO do banco.
E é aí que as coisas rapidamente se tornam mais complicadas.
Pois apesar de que uma parte da mesa quer lidar com a situação de forma correta e ética…
Logo fica claro que o CEO está mais inclinado a aproveitar a vantagem para cortar as perdas.
Ou seja: ele quer vender os ativos do banco antes que se descubra que eles na verdade não valem nada.
Algo que prejudicaria não apenas todos que comprarem esses ativos, mas que potencialmente adiantará o início da crise eminente.
A partir daí os demais funcionários da empresa, grandes e pequenos, precisam decidir entre seguir ou não com o plano, colocando na balança seus valores morais contra a retaliação brutal que a alta administração do banco se mostra capaz de desferir.
Agora, o verdadeiro motivo pelo qual eu estou recomendando esse filme…
É simplesmente que ele é MUITO bom.
Bom de um jeito que geralmente filmes sobre a bolsa não são.
Não é à toa que o filme recebeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original.
No entanto, isso não quer dizer que o filme também não tenha algum mérito como “material de estudo”, pois ele é sem dúvida um dos filmes mais realistas que eu já vi sobre a bolsa.
O que não podia ser diferente, já que o diretor e roteirista, J. C. Chandor é filho de um banqueiro de investimentos e tem experiência com investimentos imobiliários em Nova York.
Ou seja: é alguém conhece bem o mundo retratado no filme.
E é provavelmente graças a isso que, ao contrário de outros filmes sobre a bolsa, Margin Call tem personagens interessantes e convincentes, que exibem sim uma frieza típica de Wall Street, mas que ainda assim são humanos e passam por dilemas.
Outra coisa que o filme retrata muito bem é como as hierarquias e a cultura interna de certas instituições financeiras podem levar pessoas comuns a participarem de atos antiéticos por pura pressão, confusão e intimidação.
O que é algo muito importante de se ter em mente ao se investir em qualquer coisa.
Afinal, às vezes a pessoa com quem você está falando pode ser muito legal…
Mas dependendo de onde ela trabalha, não é como se ela tivesse escolha senão colocar o empregador sempre em primeiro lugar.
Em resumo: eu gosto de como esse filme mostra o lado sujo do mercado financeiro sem, no entanto, demonizá-lo infantilmente.
Mas de qualquer forma a recomendação é mais porque é um bom filme mesmo.
Afinal, nem tudo é trabalho, não é mesmo?
Atenciosamente,
Hugo Teixeira