Jack Schwager é conhecido pela sua famosa série Market Wizards. O primeiro deles foi lançado em 1988 e conta com uma série de entrevistas com alguns dos mais respeitados membros dos mercados pelo mundo todo como Richard Dennis, Ed Seykota e Van K. Tharp.
O segundo, de 1992, conta com traders como William Eckhardt e Tom Basso. E esse, o Stock Market Wizards, possui entrevistas com Mark Minervini e o famoso trading-coach, já falecido, Ari Kiev.
Decidi analisar o mais recente da série por dois motivos, primeiro porque simplesmente comecei por ele, e segundo pois, por algum motivo, muitos traders parecem idolatrar o primeiro livro e amar o segundo, mas não dão tanta bola para o terceiro.
Logo é muito melhor começar com o “pior” e ir “melhorando” do que o contrário. Mas será que é mesmo ruim? Talvez, vamos descobrir. Sem mais delongas, Stock Market Wizards.
Historinhas de Traders…
O livro contém 15 entrevistas com indivíduos que usam as mais diversas formas de trading, temos fundamentalistas e técnicos, operadores de ações e opções e outros, apenas ações, alguns deles usam algoritmos bizarros para sua operações, outros não e por aí vai. Farei como análise um breve preview de cada entrevista. Boa leitura!
Stuart Walton – um ex-trader que fez dinheiro em sua primeira operação e a partir daí só fez merda. Ele chegou até usar o dinheiro da hipoteca de sua casa pra especular. Fez tudo errado e perdeu tudo. Depois disso, Walton se recupera e então começa uma carreira muito bem sucedida, investindo dinheiro de investidores e usando uma mistura de AT, AF, intuição e análise de reações aos eventos macro-econômicos. Tirando a parte do fundo, sua história me lembra muito a do Nicholas Darvas. Eu gostei.
Michael Lauer – hmm, então, pois é… a entrevista de Lauer foi retirada nas edições mais recentes de Stock Market Wizards. Porque? Ele estava envolvido numa fraude. Dêem uma olhada nesse links: http://www.sec.gov/news/press/2009/2009-106.htm e http://www.sec.gov/news/press/2008/2008-225.htm. De qualquer forma, ele é um fundamentalista, suas idéias podem ser corretas apesar dele aparentemente não usá-las. Lembram-se do famoso “Faça o que digo e não o que eu faço?”. Talvez esse seja um bom exemplo. Não curti muito a entrevista pois suas respostas são muito enroladas e além disso, eu não gosto muito de AF…
Steve Watson – mais um fundamentalista, com idéias interessantes, suas repostas são rápidas e diretas. Um ex-corretor de valores que decidiu se tornar um gestor de fundos pois estava cansado de “ligar para várias pessoas todos os dias tentando vendê-las coisas que elas provavelmente não precisavam”. Watson também fala de suas vontades em pilotar carros de corrida, pular do céu de pára-quedas e como, quando criança, costumava brincar com animais peçonhentos. Sagaz… Enfim, eu até que gostei dessa entrevista. Acho que o que me irrita nos fundamentalistas é que eles tendem a complicar desnecessariamente as coisas, Watson não, ainda bem.
Dana Galante – ela só vende à descoberto e seus retornos são baixos. Então porque é uma entrevistada? Simples, na maior parte da existência de seu fundo, ela descobriu ações em um mercado altista. Tá, mas qual é a vantagem disso? A vantagem é que essa é uma forma dos investidores se protegerem. Por exemplo, você tem 1 milhão, agora você pode investir 500 mil em um fundo qualquer que não vende à descoberto e investir os outros 500 mil no fundo dela, assim se você perder dinheiro em um, muito provavelmente irá ganhar no outro, assim equilibrando o risco. Ela conta como precisou trabalhar com idiotas até poder abrir seu próprio fundo e explica o porque de não gostar de operar comprada. Outra fundamentalista (vende empresas zoadas) com uma entrevista legal.
Mark D. Cook – disparada a melhor entrevista do livro todo. Esse operador de opções conta como entrou no negócio por causa de uma vaca, como se matava em sua fazenda e nos mercados ao mesmo tempo, todas suas merdas feitas, seu “time-stop” de 21 minutos e etc. A parte onde ele informa sua mãe de sua mais recente cagada é o ponto alto da entrevista. Depois de todo o esforço, veio o sucesso. Apesar de suas respostas serem longas, elas são fáceis de serem entendidas e são muito interessantes. E não estou dizendo isso apenas porque ele usa AT, a verdade é que a entrevista é realmente excelente.
Alphonse Fletcher Jr. – um afro-americano graduado em matemática em Harvard conta que quando começou a trabalhar na Kidder Peabody, sofreu com racismo, ganhou um processo, e saiu para formar seu próprio negócio. O que posso dizer? Sua forma de negociação é muito incomum, tentarei explicar. Imagine que um americano e um italiano tenham a mesma ação de 100 pilas, mas por circunstâncias como impostos, o comedor de hambúrguer pega 9 dólares de dividendos e o torcedor da Ferrari fica apenas com 7. O que Fletcher faz é, ele concorda em vender a ação para o italiano um ano depois por 108 dólares, ou seja, se tudo correr bem, ele e o italiano ganham 1 dólar em cada ação. Suas operações são muito incomuns e totalmente fora do alcance do simples operador. Eu sinceramente fiquei meio entediado, mas menos aprendi algo novo.
Ahmet Okumus – esse fundamentalista nascido em Istambul explica como começou a negociar na bolsa de valores da Turquia quando ainda era um adolescente e como decidiu operar seriamente quando se mudou para os Estados Unidos no final da década de 80. É interessante que ele também vende à descoberto empresas toscas e usa opções. No caso das opções, ele as utiliza para tentar comprar ações que deseja mas que estão muito caras, se a ação subir mais ainda, ele ganha com o prêmio das opções e se a ação cair, ele é obrigado a comprar as ações que iria comprar de qualquer jeito. Okamus também fala de suas frustrações com ações de internet durante a bolha das ponto-com e sua idéias sobre a famosa teoria dos mercados eficientes, que ele acredita ser uma enorme besteira. Legal.
Mark Minervini – na segunda melhor entrevista do livro, Minervini fala sobre seu começo desastroso por ficar dando ouvidos à outras pessoas, como o seu corretor. Depois de muito trabalho e frustrações, tudo acaba dando certo. Ele credita como um dos fatores de seu sucesso, ter lido todos os livros sobre o mercado que pôde encontrar, pois em uns 10 desses livros ele teve grandes insights. É legal que um desses livros foi o How to Trade in Stocks do Jesse Livermore, Minervini diz que o livro “mudou sua vida”. Gostei muito dessa entrevista e do estilo do entrevistado, ele diz que os sistemas devem ser criados pensando na sua personalidade, novamente, o que serve pra ele pode não servir pra mim eu pra você e etc.
Steve Lescarbeau – um químico que decidiu largar tudo, foi trabalhar como corretor no Lehman Brothers (R.I.P.) e então, resolveu criar seu próprio fundo com um cara que não sabia nada. Quando a idéia do fundo foi pro saco, Lescarbeau começou a investir em fundos mútuos, sofrendo a princípio e se saíndo muito bem depois. Ele conta que quando seus clientes começaram a reclamar de coisas estúpidas, ele fechou o fundo e foi investir por sí mesmo. Lescarbeau é o único entrevistado, fundamentalista, que não faz operações à descoberto. Sua entrevista dá um bom foco aos seus sistemas, ele acredita que eles devem ser constantemente melhorados ou descartados, já que o mercado está sempre mudando e o que funcionou antes pode não funcionar agora. Boa entrevista.
Michael Masters – vindo de uma família de operadores, um dedicado ex-nadador se torna um corretor e se frusta, não gosta muito do emprego e da carreira e começa a fazer as coisas de seu jeito até que é demitido. Decide então abrir um fundo. Quase ninguém o apoia mas ele vai em frente e se dá bem. Em sua entrevista ele conta toda essa história em detalhes e então fala de seu método, um tipo de análise técno-fundamentalista. Simples e descomplicada, é uma boa entrevista, apesar de as partes sobre sua vida serem mais interessantes que a parte do trading em si.
John Bender – um físico que começou a operar opções com dinheiro de seus amigos gamblers (profissionais). Bender também acredita que a teoria dos mercados eficientes é idiota. Em sua entrevista, ele e Schwager ficam discutindo seu sistema, o modelo Black & Scholes e terminm falando sobre os analistas de Wall Street, Bender não os acha confiáveis pois eles costumam ter uma agenda. Eu meio que não aguento mais ouvir falar dessa porra desse modelo Black & Scholes, se você quiser saber mais, essa entrevista é uma boa fonte de informações sobre o assunto. Mas de forma geral ela é interessante.
Claudio Guazzoni – nascido na Itália e criado nos Estados Unidos, Guazzoni iniciou no mercado financeiro trabalhando na Salomon Brothers na mesma época de Michael Lewis, escritor do livro Liar’s Poker (que analisarei mais pra frente). Ele conta que quando saiu da Salomon, quis se dedicar mais à industria e às empresas. O sucesso veio em operações de “leveraged buyouts”. Ele explica como o processo funciona. Seu método é muito interessante apesar de, assim como a estratégia do Fletcher, estar totalmente fora do alcance da maioria dos investidores. Novas idéias, boa entrevista.
David Shaw – obcecado com trabalho e computadores, Shaw fala sobre processadores de vários bits, como seus sistemas são baseados em ineficiências nos preços do mercado, que uma vez contratou um cara brilhante chamado Jeff Bezos (que decidiu sair depois de um tempo pra fundar uma empresinha chamada Amazon.com) e que acha que vários aspectos individuais da análise técnica são bobagem, mas em conjunto, podem funcionar muito bem (…). Eu confesso que fiquei com um pouco de sono nessa entrevista, principalmente porque ele não dá exemplos muito concretos e fica muito tempo falando de assuntos nada a ver, como processadores de vários bits. Se fosse divertido, tudo bem, mas eu achei apenas maçante.
Steve Cohen – deve ser o operador que mais se diverte trabalhando. A entrevista é cortada o tempo todo pois sempre surge algo do nada para ele fazer. Cohen opera com vários outros traders (contratados por ele obviamente) na mesma sala. Eu achei essa entrevista muito boa porque ele não enrola, vai direto ao assunto e fala coisas úteis. É claro, infelizmente ela é uma das mais curtas do livro todo com míseras 13 páginas. O que é uma pena pois poderia ter sido ainda melhor. Azar.
Ari Kiev – o único não-trader do livro, Kiev é um psicólogo que trabalhou com atletas olímpicos e agora é um trading coach. Escreveu alguns livros como Trading to Win (que estou lendo, irei analisar depois) e trabalha com o carinha da curta entrevista aí de cima três vezes por semana. Ele fala principalmente da importância de se ter um objetivo e torná-lo público. Apesar da entrevista ter vergonhosas 10 páginas, ela é boa, mas deixa a sensação de potencial desperdiçado. Azar x 2.
O sol é como um raio de luz que ilumina a escuridão dos dias anteriores ao amanhã…
Depois de todas essas entrevistas, Schwager oferece um capítulo que resume as idéias principais de todos os entrevistados em 65 pontos. Eu achei meio desnecessário e repetitivo já que a maioria das idéias já estavam muito claras, mas tudo bem, esse capítulo pode ter utilidade para algumas pessoas. Depois disso vem o apêndice, onde o autor dá uma breve explicação sobre opções, o que é legal, mas pô, só opções? Podia ter material sobre os outros métodos incomuns usados pelos entrevistados. Ficou a sensação de que o autor poderia ter ido muito mais longe.
Posso concluir essa análise dizendo que Stock Market Wizards é um livro legal. Se você não for muito iniciante, não encontrará nada de muito útil aqui. É legal ler as entrevistas mas em sua maioria, elas não adicionam nada de muito especial. Se todo o livro tivesse entrevistas realmente muito boas como as feitas com o Mark D. Cook e o Mark Minervini (epa, um padrão! Hauheauehau), Stock Market Wizards seria um livrasso, infelizmente não é o caso.
De qualquer forma é sempre bom ler vários livros de trading já que você pode encontrar algo de especial, só porque eu não encontrei, não significa que você também não encontrará. O que serve para mim pode não servir para você e blá-blá-blá. Mesmo assim não posso negar que o livro é um bom passatempo, vendo por esse lado, ele se sai muito bem.
Ahh é, você encontra o Stock Market Wizards no Amazon.
E aí, você leu o livro? Gostou, odiou? Opine!
Olá Hugo,
Nesse post você comentou que ia analisar os livros “Liar’s Poker” e “Trade to Win”. E aê esses dois livros são bons mesmo ou não?
BTW: Terminei mais um da sua lista: Enhancing Trader Performance. Achei interessante e motivador.
Abraço,
Ulisses
Oi Ulisses,
Verdade, eu disse. Mas um pouco depois daquilo eu parei de escrever e aí, esqueci. Acho que as pessoas não se importam muito com esses livros “exóticos” e por isso, diminui a frequência de posts sobre eles :S
De qualquer forma, eu não terminei o livro do Ari Kiev e nem o Liar’s Poker heuhuaehaueha. Agora, o do Kiev eu li pouco então não posso falar mas o Liar’s Poker, que li mais, é super legal e serve basicamente como um When Genius Failed: Antes de Tudo, porque alguns personagens aparecem e é muito bacana. Porém, acredito que ele sirva só para diversão mesmo porque até onde eu li, não aprendi nada 😛
O ETP é ótimo mesmo mas pô, o que ele tem de bom ele tem de pesado. Eita livro difícil de se ler hehehe
Abraço,
Hugo
Primeiro quero dizer que gosto muito desse SITE. Gostaria de saber se esse livro, tem edição em lingua portuguêsa.
Muito Obrigado,
MARCELO
Olá Marcelo, e obrigado!
Mas infelizmente não tem nenhum livro da série Market Wizards em português :/
O mercado nacional ainda é muito pobre no tema trading. Vamos ver se no futuro as editoras nacionais tenham a vontade de lançar livros desse tipo e não só livros iguais de análise técnica 😛
Abraço,
Hugo